Ceia do Senhor

27/05/2017

1 Corintios 11, 17-34

Por Hélio Gomes

Além dos evangelistas Marco, Mateus e Lucas o apóstolo Paulo, também, escreve sobre a Ceia do Senhor. Esse registro do apóstolo Paulo é, sem dúvidas, um dos mais antigos escritos sobre o tema da ceia cristã.

A situação da comunidade de corinto levou o apóstolo a tomar medidas severas, principalmente, no que diz respeito à Eucaristia. Vejamos o que ele diz:

Dito isto, não posso louvar-vos: Vossas assembleias, longe de vos levar ao melhor, vos prejudicam. Em primeiro lugar, ouço dizer que, quando vos reunis em assembléia, há entre vós divisões, e, em parte, creio. É preciso que haja até mesmo divisões entre vós, a fim de que se tornem manifestos entre vós aqueles que são comprovados. (1Cor, 11, 17-19)

O principal motivo da carta aos coríntios é que estava havendo muitas divisões na comunidade 1Cor 11. Na comunidade heterogênea é inevitável que haja divisões, porém, os provados, devem dar o exemplo para edificar os fracos, principalmente na celebração Eucarística.

Quando, pois, vos reunis, o que fazeis não é comer a Ceia do senhor, Cada um se apressa por comer a sua própria Ceia; e, enquanto um passa fome, o outro fica embriagado. Não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direis? Hei de louvar-vos? Não, neste ponto não vos louvo. (1Cor, 11, 20-22)

Muitas vezes, no AT, o profeta Isaías (1,10-20) condenara o que ele chamava de culto de aparência pela maneira como eram oferecidos, e pela situação de injustiça vivida pelo ofertante. Chega a declarar detestável essa prática; outros profetas denunciam a transformação do templo em covil de ladrões Jr 7. De modo análogo, Eucaristia sem caridade é vazia.

Ora, sabemos que na Igreja primitiva, a Ceia do Senhor, era precedida a uma refeição. É nessa refeição que acontecia a indiferença, onde os abastados comiam sem esperar pelos mais humildes e às vezes até se embriagavam, gerando assim, essas desavenças. Hoje a Igreja prescreve abstinência de pelo menos uma hora antes da Eucaristia. Não seria melhor que cada um comesse em sua própria casa e depois fosse participar da Ceia do Senhor? Recomenda o apóstolo.

Com efeito, eu mesmo recebi do Senhor o que vos transmiti: na noite em que foi entregue, o Senhor tomou o pão. (1Cor, 11, 23)

O ato fundante da nova e eterna Aliança fica vinculado à liturgia com mais rigor do que aquele da saída do Egito (Ex 12, 26s) e que repetimos na noite pascal.

e, depois de dar graças, partiu-o e disse: "Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim. (1Cor, 11, 24)

Temos aqui uma ação de graças semelhante à beraká judaica; com raiz grega a qual dá origem à nossa Eu-charis-tia; ou fração do pão pelos antigos. Em memória significa para sempre e atualiza o fato.

"Fazei" quer dizer que a Igreja deve fazer sempre. E por vós significa o valor redentor da morte de Jesus.

Do mesmo modo, após a Ceia, tomou também o cálice, dizendo: "Este cálice é a nova Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim". Todas às vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha. (1Cor, 11, 25-26)

"Até que volte": Nossa memória não nos deixa perder a esperança na volta do Senhor, A parusia.

Eis por que todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Por conseguinte, que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice. (1Cor, 11, 27-28).

Entendamos aqui que o indivíduo que está em desacordo com o mandamento, não invalida o ato litúrgico. Mas se torna réu gravemente. Por isso a necessidade de um exame prévio da nossa consciência. É hoje, o nosso ato penitencial no início de cada celebração da Eucaristia. As fórmulas teológicas empregadas pelo apóstolo são de grande riqueza para nossa reflexão atual.

Pois aquele que come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe sua própria condenação. Eis que há entre vós tantos débeis e enfermos e muitos morreram. Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas por seus julgamentos o Senhor nos corrige, para que não sejamos condenados com o mundo. (1Cor, 11, 29-32).

Segundo o apóstolo Paulo a comunidade faz parte do corpo de Cristo, nisso temos um único corpo que deve ser reconhecido. Dá a entender, no texto, que houve muitas mortes em corinto, e que o apóstolo adverte à semelhança do que acontecia no AT como um aviso divino à comunidade.

Portanto, meus irmãos, quando vos reunirdes para a Ceia, esperai uns pelos outros. Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de que não vos reunais para a vossa condenação. Quanto ao mais eu o determinarei quando aí chegar. (1Cor, 11, 33-34).

Como último conselho, o apóstolo recomenda que, aqueles que por motivo grave não possam esperar, comam em sua casa.

Como estamos participando da Eucaristia?

Bibliografia

Bíblia de Jerusalém - Ed. Paulus
Bíblia do Peregrino - Ed. Paulus

Por Joaquim Nobre

Não Comungue Sua Condenação

Estando Paulo em Éfeso, continuou a pensar nos irmãos coríntios que tinha ensinado e, a orar por eles em ação de graça, pela graça dada por Deus em Jesus Cristo. Corinto cidade de quinhentos mil habitantes, capital da província de Acaia, no sul da Grécia. Cidade próspera, com dois portos: o de Lequeo e de Cencréia, além um próspero comércio. Com isso Corinto possuía uma população muito misturada, gente de todo os tipos e de vários lugares, essa miscigenação levava uma vida muito devassa, relaxada e cultuava quatro grandes deuses: "Netuno "deus do mar"; Apolo "deus da guerra e da beleza"; Afrodite (Vênus) "deusa do amor e da fertilidade"; Dionísio "deus do vinho".".

A idolatria corria solta, pelo politeísmo e pelas grandes quantidades de imagens dos deuses espalhadas pela cidade, além de cinco templos onde se ofereciam sacrifícios de animais aos deuses e, como símbolo de comunhão, essa carne era comida pelos fiéis, em grandes banquetes sagrados. Os Coríntios gostavam muito de se gabar, falar bonito, de aparecer e entrar em transe. O povo de Corinto era envolvido com todos os hábitos e costumes da época naquela cidade. E é neste contexto que Paulo vai organizar uma comunidade cristã, em sua segunda viagem missionária por volta de 50 a 52 d.C, juntamente com Áquila e Priscila, os quais tem a mesma profissão de Construtores de Tenda, trabalhavam juntos na profissão e na evangelização, até a vinda de Silas e Timóteo da Macedônia, onde Paulo passa a dedicar-se à Evangelização.

Como a comunidade de Corinto era socialmente misturada. Formada por cristãos vindos do judaísmo, do paganismo e escravos, a maioria era pobre. Após três anos de criada a Comunidade Cristã de Corinto, começa sérios problemas de conduta, sendo os principais: "Divisão na Comunidade, a Luxúria e a libertinagem, brigas, roubos, discórdias e apelo aos tribunais pagãos, que julgavam segundo os critérios cristãos, a prostituição, os banquetes sagrados onde comiam carnes sacrificadas aos ídolos, além da má distribuição de alimentos na ceia do Senhor, orações em línguas estranhas na liturgia e dúvida sobre a ressurreição de Jesus.". Paulo recebeu várias informações sobre eles através da família de Cloe, as rixas existentes entre os coríntios (1Cor 1,11), Estéfanas, Fortunato e Acaico (16,17-18) e por carta (7,1). Escreveu-lhes várias vezes, incluindo-se pelo menos uma carta antes de 1 Coríntios (5,9).

Nas cartas aos Coríntios, Paulo irá destacar duas situações que o incomoda e o preocupa que são as divisões e as descriminações. Nas divisões: Havia vários grupos entre os fiéis. Um dizia: "Eu sou de Paulo", para eles era permitido fazer tudo, confundiam a liberdade pregada por Paulo, por libertinagem. Outros diziam: "Eu sou de Apolo", para eles, Cristo é só uma sabedoria ou uma ideia, grupo composto por aqueles de mentalidade grega. "Eu sou de Pedro", grupo formado por aqueles apegados às leis do judaísmo. "Eu sou de Cristo", era o grupo dos místicos. Para eles não havia a necessidade de intermediários humanos, pois achavam que podiam se ligar diretamente a Cristo, era o grupo mais perigoso, por acharem que por si mesmos já estariam salvos. Cada um representava um grupo com ideias diferentes.

Já as discriminações estão ligadas diretamente à Ceia do Senhor, e ao meu foco, direto na Ceia do Senhor (1Cor. 11,17-34), donde iremos destrinchar "Não Comungue sua Condenação". Paulo começa essa passagem dizendo: "Dito isto, não posso louvar-vos: vossas assembleias, longe de vos levar ao melhor, vos prejudicam" (1Cor 11,17). Paulo afirma que a nossa sabedoria é Cristo. Por isso, não pode haver divisões ou descriminações entre os cristãos, à moda dos coríntios.

Todos somos unidos e livres em Cristo. E continua: "Em primeiro lugar, ouço dizer que, quando vos reunis em assembleia, há entre vós divisões, e, em parte, o creio". (1Cor 11,18). Eu não deixei claro a vocês que essa sabedoria é diferente da sabedoria dos gregos, pois a cruz, que para os gregos era loucura, tornou-se para os cristãos sabedoria e salvação. A força do cristão está na cruz. Não há motivos de divisões na comunidade, porque Cristo é o ponto de unidade. "É preciso que haja até mesmo cisões entre vós, a fim de que se tornem manifestos entre vós aqueles que são comprovados". (1Cor 11,19). Vocês não aprenderam que somos apenas servidores de Deus? E é o Pai quem dá o crescimento? Vocês são o Templo de Deus, que tem Jesus Cristo como alicerce. "Quando, pois, vos reunis, o que fazeis não é comer a Ceia do Senhor"; "cada um se apressa por comer a sua própria Ceia; e, enquanto um passa fome, o outro fica embriagado". (1Cor 11,20-21). O importante é que cada um dê o testemunho de Jesus ressuscitado em sua comunidade. E não para agir dessa maneira entre irmãos: "Não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direis? Hei de louvar-vos? Não, neste ponto não vos louvo". (1Cor 11,22). Paulo repudia essa atitude que impede o entendimento da Ceia do Senhor.

"Com efeito, eu mesmo recebi do senhor o que vos transmiti: na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim. Do mesmo modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: Este cálice é a nova Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim. Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha. (1Cor 11,23-26.). Paulo quando afirma isso que dizer: como cita a nota da Bíblia do Peregrino: (que este ato litúrgico fica vinculado a um fato fundacional; com mais rigor que o da Páscoa vinculada à saída do Egito (Ex 12,26s); além disso, "essa noite" é expressão que perdura na liturgia judaica e que repetimos no anúncio pascal. É a clássica "ação de graças", que corresponde à beraká judaica; com sua raiz grega dá nome à nossa eu-charis-tia; também chamada de "a fração do pão" pelos antigos. "Em memória": em grego anámnesis, conservado também como termo técnico em nossos tratados; memória é que atualiza o fato, comemoração festiva. "Por vós" significa o valor redentor da sua morte. "Fazei": é um preceito que a Igreja deve cumprir e cumpre ao longo dos séculos (cf. Hb 9,16-22). - "Até que volte": o que é memória é também esperança, projetada para a parusia ou retorno do Senhor. "Comeis e bebeis" é a comunhão na sua forma primitiva (bastante limitada em nossos dias).

Então Paulo em sua considerada primeira carta deixa claro quais as consequências para aqueles que não agirem conforme o Próprio Cristo pediu: "Eis por que todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Por conseguinte, que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação. Eis que há entre vós tantos débeis e enfermos e muitos morreram. Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas por seus julgamentos o Senhor nos corrige, para que não sejamos condenados com o mundo. Portanto, meus irmãos, quando vos reunirdes para a Ceia, esperai uns aos outros. Se alguém tem fome, coma em sua casa, a fim de que não vos reunais para a vossa condenação. Quanto ao mais eu o determinarei quando aí chegar" (1Cor 11,27-34). Paulo recorre à tradição para mostrar que a ceia é o sinal da mensagem de Jesus: partilha, igualdade e fraternidade. A ceia é a celebração da memóriade Jesus Cristo. É esta a tradição que tem de ser transmitida em todas as comunidades cristãs. E onde existem divisões, uns de barriga cheia e outros com fome, não se pode celebrar dignamente o sinal da mensagem de Jesus.

A ceia do Senhor é Sinal de testemunho e vivência do projeto de Deus. Pelo menos alguma coisa tem que ser feita na comunidade como sinal de que o projeto está sendo construído.

Evidentemente, a eucaristia não é refeição qualquer, mas a Ceia do Senhor, na qual fazemos memória do seu sacrifício da cruz, de sua morte e ressurreição. Como diz o nome "eucaristia", ele é ação de graça e louvor. Anunciando a morte do Senhor, proclamando a sua ressurreição, celebramos a Páscoa do Senhor, do Cristo todo, da cabeça e dos membros do corpo místico. Celebramos a nova e eterna aliança e a antecipação do banquete eterno do reino definitivo. Na celebração, Jesus está realmente, sobretudo na espécie do pão e do vinho, mas também na assembleia, nos ministros, na Palavra proclamada, na oração e no canto (cf. SC, n. 7), já que a eucaristia, como toda celebração litúrgica, é o exercício do sacerdócio de Jesus Cristo, dele e de todos que pelo batismo participam do seu sacerdócio. E, como também o Concílio Vaticano II diz: tudo isso "pela força do Espírito Santo" (SC, n. 6). (cf. Diretório da Liturgia 2017 - CNBB pg 22)

Autor

Joaquim Nobre Chagas, aspirante ao Diaconato no sétimo semestre na Escola de Formação Diaconal São Francisco de Assis da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, graduando em Teologia pela Universidade Católica do Salvador. Artigo desenvolvido como trabalho avaliativo para a disciplina Cartas Paulinas, facilitador Cônego Frei Gregório.

Bibliografia

Bíblia de Jerusalém - Ed. Paulus
Bíblia do Peregrino - Ed. Paulus
Novo Comentário Bíblico de São Jeronimo - Novo Testamento - Ed. Paulus
Dicionário de Paulo e suas cartas - Ed. Vida Nova - Ed. Paulus - Ed. Loyola
Paulo Apóstolo de Carlos Masters - Ed. Paulus
Paulo Apóstolo de Valmor da Silva - Ed. Paulinas
Estudo das Cartas de São Paulo - Edições Paulinas

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